O Medo do Abandono nos Relacionamentos: Por Que Sentimos e Como Lidar?
A Origem do Medo: Vínculos e Necessidades Emocionais
"Promete que não vai crescer distante? Promete que vai ser pra sempre assim?"
Os versos da canção de Ana Vilela tocam em um ponto sensível que vive no coração de muitos de nós: o medo profundo de perder quem amamos. Para alguns, é uma preocupação passageira. Para outros, no entanto, é uma ansiedade constante, uma voz persistente que sussurra que, a qualquer momento, o outro pode ir embora.
Esse sentimento, que pode se manifestar como ciúmes, necessidade excessiva de reafirmação ou até mesmo uma tendência a fugir das relações antes que elas fiquem sérias demais, não surge do nada. Ele tem raízes profundas em nossas primeiras experiências e é um dos temas mais explorados na psicologia dos relacionamentos.
Neste texto, vamos mergulhar na origem desse medo e entender, com a ajuda da Terapia do Esquema, como podemos aprender a construir relações mais seguras, começando por nós mesmos.
A Origem do Medo: Vínculos e a Necessidade de Segurança
Desde o primeiro dia de vida, temos uma necessidade inata de formar vínculos afetivos com figuras especiais para garantir nossa sobrevivência.
Essas experiências iniciais criam o que ele chamou de "Modelos Internos de Funcionamento": um mapa mental e emocional que nos diz o que esperar do amor, do cuidado e da segurança. A necessidade de ter um vínculo seguro, onde nos sentimos protegidos e amparados, é fundamental para um desenvolvimento saudável.
É a partir dessa vulnerabilidade que se forma um padrão de pensamento e sentimento que a Terapia do Esquema chama de Esquema de Abandono/Instabilidade.
Quando o Medo se Torna um Padrão: O Esquema de Abandono/Instabilidade
Ter um Esquema de Abandono/Instabilidade ativado é como viver com um alarme de incêndio que dispara ao menor sinal de fumaça. É a crença e a expectativa persistente de que os outros irão nos deixar e que não podemos contar com eles para um apoio duradouro.
Esse esquema pode se manifestar de várias formas em um relacionamento amoroso:
- Comportamentos de apego excessivo: Uma necessidade constante de contato e reafirmação, ciúmes intensos e comportamentos de controle por medo de que o parceiro se afaste.
- Escolha de parceiros inadequados: Uma tendência inconsciente de se envolver com pessoas que são, de fato, instáveis, não confiáveis ou indisponíveis, o que acaba por confirmar a crença original de que "todos abandonam".
- Autossabotagem: Afastar o parceiro ou terminar o relacionamento ao primeiro sinal de problema, como uma forma de "abandonar antes de ser abandonado" e se proteger da dor da rejeição.
- Ansiedade paralisante: Ficar em um estado de hipervigilância, interpretando qualquer pequeno gesto de distanciamento do parceiro – como uma mensagem não respondida ou um momento de silêncio – como um sinal de que o fim está próximo.
O Caminho para a Segurança Interna: Curando a Ferida
Se você se identificou com esses sentimentos, a notícia mais importante é: existe um caminho para a cura. A Terapia do Esquema não visa apagar o passado, mas sim enfraquecer o poder que esses esquemas têm sobre o seu presente.
O objetivo central é fortalecer o seu "Modo Adulto Saudável".
Uma das estratégias centrais para isso é a "Reparentalização Limitada".
Curar a ferida do abandono não significa nunca mais sentir medo, mas sim aprender a reconhecê-lo quando ele aparece, entender de onde ele vem, e escolher não deixar que ele pilote suas decisões.
Conclusão
O medo de ser deixado(a) é uma dor real e legítima, com uma história que faz sentido. Reconhecer que esse medo tem um nome Esquema de Abandono é o primeiro passo para tirar o poder que ele tem sobre você.
Ao entender suas origens e fortalecer sua capacidade de se acolher, você abre espaço para construir relacionamentos baseados não mais no medo da perda, mas na alegria da partilha.
Se este tema ressoa em você e causa sofrimento, não hesite em procurar ajuda profissional. Um psicólogo pode te guiar nessa jornada de autoconhecimento e cura. Como esse medo se manifesta na sua vida? Compartilhe suas reflexões nos comentários.
Nik Fayra Dutra
Psicóloga Clínica
CRP 07/42604
Referências:
Para a elaboração deste texto, foram utilizados como base os seguintes capítulos do livro "Terapia do Esquema para Casais: base teórica e intervenção" (Artmed, 2019), organizado por Kelly Paim e Bruno Luiz Avelino Cardoso:
- Capítulo 2: "Teoria do apego e esquemas conjugais", de autoria de Marco Aurélio Mendes e Adriana Mussi Lenzi Maia.
- Capítulo 8: "A relação terapêutica", de autoria de Clarissa Leitune e Ben-Hur Risso.
- Capítulo 9: "Até que a morte nos separe...", de autoria de Bruno Luiz Avelino Cardoso, Maria Alice Centanin Bertho e Kelly Paim.
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